Pouca gente sabe, mas um dos pontos de partida desta importante rota foi a Vila de São Vicente, cujo nome, em tupi-guarani, significa “pe” (caminho) e “abiru” (gramado amassado).
O gramado citado, são gramíneas que parecem ter sido plantadas nas bordas da estrada, que cresce como pequenas touceiras, que mesmo pisadas, queimadas, tornam a brotar. Esse tipo de vegetal é muito comum nesta região e muito se diferencia do capim que conhecemos.
(SC).
Ela vem do Peru e vai até o Atlântico, passando pelo Brasil. Boa parte foi apagada por causa do desenvolvimento da agricultura em muitas regiões por onde passava a trilha.
O vicentino Pero Correia foi morto pelos índios em 1554 nesse caminho, em viagem ao Paraguai. Foi também utilizado por Aleixo Garcia em 1524, onde chegou ao império Inca e praticou pilhagem local.
Há pesquisas que indicam que a trilha foi usada já nos anos de 400 e 500 d.C, portanto, mil anos antes da conquista das Américas.
O que se afirma, sem dúvida alguma, é que esse caminho não foi feito por indígenas brasileiros. Isso fica bem claro, porque os nossos indígenas somente trabalhavam com madeira e barro, e a estrada demonstra bem que foi feita com ferramentas de metal.
Há também outros caminhos como o de Peabiru, ligando o Peru ao Atlântico. Um deles passa pela Bahia, outra estrada passa por Santa Catarina. Todas elas são bem parecidas e demonstram bem onde querem chegar: o oceano Atlântico. Há pesquisadores que defendem que os Incas vinham para essas regiões para garimpar ouro. Isto porque os maiores indícios são encontrados na Bahia, mais exatamente na parte da Chapada Diamantina. Hoje encontram-se escavações feitas há muitos anos, com o objetivo de achar ouro. Nessa região até hoje acham-se muitos minerais de valor.
Há hipóteses de que foi por sua existência a razão de Martim Afonso ter vindo fundar uma vila aqui no Brasil, exatamente em São Vicente e ter escolhido esta capitania para ser donatário. Queria ele chegar ao império Inca e conseguir ouro do qual tanto se falava. Verdade ou não, fica aqui mais uma hipótese ou uma das grandes coincidências da história nacional.
Boletim do IHGSV
Ainda:
São milenárias as Rotas: do Estanho (Ilhas Britânicas - Cassitérides, talvez as atuais Scilly - do primeiro milênio de nossa era; a Rota da Seda, que tornou esse produto conhecido pelos gregos no III século antes de Cristo, indo ao Pamir, até a Torre de Pedra, onde se realizavam os mercados fornecidos pelos negociantes chineses; a Rota do Lapis-Lazuli, do terceiro milênio; a Rota da Prata, pela qual os Tírios iam procurar na Espanha a prata e outros metais com os "navios de Tarsis", de que fala a Bíblia, e tantas outras.
As civilizações se fizeram pelas rotas. Por elas se aculturaram povos, se enriqueceram nações, se conquistaram mundos. Nem todas as rotas, porém, permanecem vivas. Algumas, sim, permanecem, pelo menos na memória de suas gentes. Outras, resgatadas, continuam guiando seus povos a caminho de novos sonhos, novas riquezas, adaptadas aos novos tempos.
O Caminho de Peabiru era uma “estrada” milenar, transcontinental que ligava o oceano Atlântico ao Pacífico, atravessando a América do Sul, unindo quatro países. No Brasil, passava por Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Mato Grosso do Sul e depois seguia para Paraguai, Bolívia e Peru, cortando mata, rios, cataratas, pântanos e cordilheiras.
O caminho, no Brasil, começava em São Vicente ou Cananéia, no litoral paulista, cruzava o Estado do Paraná de Leste a Oeste, penetrava no chaco paraguaio, atravessava a Bolívia, ultrapassava a Cordilheira dos Andes e alcançava, finalmente, o sul do Peru e a costa do Pacífico. Este era o chamado tronco principal, mas havia vários ramais. Um deles cruzava o rio Paranapanema, na divisa entre São Paulo e Paraná, onde segundo a historiadora Rosana Bond, baixava o sul quase em linha reta, passando pelas atuais cidades paranaenses de Peabiru e Campo Mourão. Outro ramal dava no litoral de Santa Catarina e outro, ainda, provavelmente, no Rio Grande do Sul; ao todo tinha aproximadamente 3 mil km de extensão, possuía oito palmos de largura (cerca de 1,40 metros) e aproximadamente 0,40 centímetros de profundidade. Para evitar o efeito erosivo da chuva, a trilha era forrada com vários tipos de grama, que também impediam que a via fosse tomada por ervas daninhas. O professor Moysés Bertoni, pesquisador da cultura dos índios guaranis, afirma que a grama foi plantada apenas em alguns trechos, mas as sementes que grudavam nos pés e nas pernas dos viajantes acabaram estendendo o revestimento aos demais trechos.
Segundo o professor Moysés Bertoni, o Peabiru é algo fantástico por seu tamanho, sua função e suas características, diz; ainda que até hoje a civilização moderna não conseguiu construir nenhuma rodovia ou ferrovia ligando os dois oceanos de ponta a ponta.
A verdadeira história do Peabiru, segundo estudiosos ainda é um mistério, uma das teorias mais aceitas é que o caminho é a menor e melhor rota entre os oceanos Atlântico e Pacífico, tendo um importante papel no intercâmbio cultural e na troca de produtos entres as nações indígenas. Dizem ainda que foi aberto pelos guaranis em busca constante de uma mitológica "Terra sem Mal", aconselhados pelos seus deuses - base da religião guarani. Esse território mágico seria a morada dos ancestrais, descrito como o lugar onde as roças cresciam sem serem plantadas e onde a morte era desconhecida. Segundo o professor Samuel Guimarães da Costa, o Paraná seria esse "Nirvana" indígena e o Peabiru uma espécie de caminho santo que percorria o paraíso perdido, (para os índios, o Paraná se chamava Guairá, que em tupi-guarani quer dizer "terra da eterna juventude)”.
Existem mais duas hipóteses para a criação do Peabiru: a de São Tomé e/ou Pay Sumé, apóstolo de Cristo, e a da civilização Inca.
Importância Histórica
Segundo a escritora Rosana Bond, autora do livro “O Caminho de Peabiru” o caminho possui grande importância histórica, pois entre outras coisas serviu para as andanças e até grandes migrações de povos indígenas e, mais tarde, para a descoberta de riquezas, criação de missões religiosas, comércio, fundação de povoados e cidades.
Segundo as crônicas coloniais, os relatos do Padre Montoya e os historiadores Sérgio Buarque de Hollanda, Jaime Cortesão e Eduardo Bueno, o Peabiru é o principal caminho para a penetração da região sul do Brasil e do Paraguai.
Pelo Peabiru transitaram além dos indígenas, São Tomé e/ou Pay Sumé, Incas, ou seja, os possíveis criadores da trilha, também outros desbravadores ainda que considerado somente o período pós-Cabralino: soldados sacerdotes, aventureiros, os artifícies de nossa América, pessoas que construíram a história da região sul do Brasil.
Aleixo Garcia um português que utilizou o Peabiru, foi o primeiro europeu a fazer contato com os Incas, e a penetrar o interior do Brasil e do Paraguai em busca de um acesso às riquezas desse povo, no ano de 1524, a partir do litoral de Santa Catarina e, rumando para oeste, seguindo o caminho traçado pelos índios, chegou à região de Assunção, no Paraguai. Depois de diversas peripécias e confrontos com inúmeras tribos uma pequena parte de sua expedição retornou com peças de ouro e prata tomadas dos Incas.
Segundo o historiador Eduardo Bueno, depois da jornada de Aleixo Garcia, o Peabiru se tornou um caminho bastante conhecido e muito percorrido. Por ele seguiria, em 1531, a malfadada expedição de Pero Lobo, um dos capitães de Martim Afonso de Sousa.
Também pelo Peabiru passaram Alvar Nuñes Cabeza de Vaca em 1541 e Ulrich Schmidel em 1553, jesuítas como Pedro Lozano e Ruiz de Montoya também o percorreram em suas missões de catequese aos guaranis. Um século mais tarde, seria também pela via do Peabiru que Raposo Tavares e outros bandeirantes paulistas seguiriam para realizar seus devastadores ataques às missões do Guairá, no atual estado do Paraná.
Ainda no século XVI, o Peabiru foi o caminho usado para a fundação de Assunção, no Paraguai, para a criação de três ou quatro cidades espanholas no atual Estado do Paraná, para a implantação de 15 reduções jesuítas e até para a descoberta da maior mina de prata do mundo em Potosi, Bolívia.
Cortesão relata que, se julgamos tal caminho merecedor de tantas referências, é porque não somente foi o mais importante da face atlântica da América Latina, mas também o maior varadouro cultural e civilizador .
Depois de 1630, quando os bandeirantes entraram no Paraná e destruíram as cidades espanholas e as missões dos jesuítas, o Peabiru foi praticamente abandonado. O caminho ainda conseguiu retomar vida no século XIX, quando serviu, mais uma vez, para entrada de uma nova leva de homens brancos, os colonizadores pioneiros do interior do Paraná.
É notória a importância que o Caminho de Peabiru possui seja pelo traçado que cortava o continente, seja pelas personagens que por ele transitavam, pois é através dele que a verdadeira história e cultura de nossos antepassados são transmitidas nos dias de hoje, apesar da colonização européia que, utilizando do Peabiru adentrou na nossa região a fim de explorar o povo e a grandiosa riqueza natural aqui encontrada. O Peabiru é um caminho de importância inquestionável e deve ser resgatado para que as raízes do nosso povo sejam mantidas vivas entre o maior número de cidadãos e não apenas na memória de poucos estudiosos.
http://claudiohistoria.blogspot.com.br/2012/01/o-caminho-de-peabiru.html