O PRIMEIRO MÁRTIR BRASILEIRO
O mártir André de Soveral nasceu em São Vicente pelos idos de 1572 e estava com 73 anos quando se deu o seu martírio em 1645. Seus pais eram portugueses que lhe transmitiram sólidos ensinamentos cristãos. Presume-se que o mártir André de Soveral tenha sido contemporâneo e aluno de Anchieta, um dos primeiros jesuítas, e que ainda tenha estudado no “Colégio dos Meninos de Jesus”, fundado por Leonardo Nunes.
Deve também ter sido batizado na Matriz de São Vicente Mártir, onde recebeu os primeiros sacramentos e sua primeira Eucaristia. Por motivos desconhecidos, deixou a Companhia de Jesus, se tornando Padre Secular, quando foi para o Rio Grande do Norte, em Natal. Foi trabalhar em Cunhaú, na Capela de Nossa Senhora das Candeias (nome da nau de Martim Afonso de Sousa, na qual veio para São Vicente). E foi lá, na região, que Soveral encontrou o martírio e a morte, que se deu durante o domínio holandês, quando se criou um clima de verdadeira perseguição religiosa por parte do governo flamengo ligado à Igreja Cristã Reformada Calvinista.
Cunhaú, como centro econômico de grande importância, foi alvo das atenções e dos ataques holandeses. No dia 15 de julho de 1645, chegou, a Cunhaú, Jacó Rabe, um emissário das autoridades holandesas sediadas no Recife. Este era um alemão a serviço dos holandeses, e dizia-se portador de uma mensagem do Supremo Conselho Holandês do Recife aos habitantes de Cunhaú.
No dia seguinte, 16 de julho, um domingo, aproveitando a presença de um grande número de colonos na Igreja, para a missa dominical celebrada pelo Pároco, Padre André de Soveral, Jacó Rabe, mandava afixar nas portas da Igreja um edital, convocando todos para ouvirem as ordens do Supremo Conselho, que seriam dadas após a missa. Muitos compareceram, mas uma chuva providencial, caída naquela manhã, impediu que o número fosse maior.
Chegou a hora da missa. Os fiéis, em grupos de famílias ou de amigos, se dirigiam à igrejinha de Nossa Senhora das Candeias. Levados apenas pelo desejo de cumprir o preceito religioso, não portavam armas, proibidas pelas autoridades holandesas. Na Igreja havia apenas alguns bastões, que estavam encostados nas paredes do pórtico.
O Padre André de Soveral inicia a celebração. Após a elevação da hóstia e do cálice, erguendo o Corpo do Senhor para a adoração dos presentes, e a um sinal de Jacó Rabe, foram fechadas todas as portas da Igreja e se deu início à terrível carnificina. Foram cenas de grande atrocidade: os fiéis em oração, tomadas em surpresa e indefesos, foram covardemente atacados e mortos pelos flamengos com a ajuda dos Tapuias e Potiguares.
Ao perceber que iam ser mesmo sacrificados, os fiéis não se rebelaram. Ao contrário “entre mortais ânsias se confessaram ao sumo sacerdote Nosso Senhor Jesus Cristo, pedindo-lhe cada qual, com grande contrição, perdão de suas culpas”, enquanto o Padre André estava “rezando apressadamente o ofício da agonia”. Os primeiros ataques ao venerando sacerdote André de Soveral partiram dos Tapuias. O Padre, porém, falando a língua dos indígenas na qual era bem versado, exortou-os a não tocar na sua pessoa ou nas imagens e objetos do altar, sob pena de ficarem tolhidas as mãos e as partes do corpo que o fizessem. Os Tapuias recuaram receosos, mas os Potiguares não deram importância às palavras do sacerdote, arremetendo contra o ministro de Deus e “fazendo-o em pedaços”. O autor da façanha foi o “principal” dos Potiguares, Jererera, que, empunhando uma adaga, feriu de morte André de Soveral.
Segundo relatos da época, “os índios tiravam as entranhas, depois de cortar as cabeças, pernas e braços de suas vítimas”.
Este foi o perfil de André de Soveral, herói e mártir de Cunhaú, cujo processo de beatificação o Santo Padre João Paulo II, no dia 17 de dezembro de 1998, assinou. A festa pela beatificação ocorreu no dia 5 de março de 2000. O Santo Papa fixou o dia 3 de outubro, de cada ano, como o dia do Beato André de Soveral.
Com isso, São Vicente se transformou, além de “célula-mãe” da brasilidade, em também “terra-mãe” de um Mártir, o 1ª do Brasil, Beato André de Soveral.
FONTE : Boletim do IHGSV