A ação do homem e causas naturais vêm acelerando a subida do nível do mar no Litoral Paulista. Com isso, pelo menos 20 praias correm o risco de desaparecer nos próximos anos. Pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo, Célia Regina de Gouveia Souza vem monitorando os 600 quilômetros da costa do Estado há 22 anos e aponta situações críticas tanto no sul quanto na parte norte da costa paulista. Em Santos, o estudo mostra que a erosão observada inicialmente na Ponta da Praia está migrando em direção à Praia da Aparecida.
Nível do Mar já subiu 30 cm no Litoral Paulista
Estudos apontam que o nível do mar subiu 30 centímetros no Litoral Paulista no século passado, contra uma média de dez centímetros no mesmo período no resto do mundo. Os dados são do Instituto Oceanográfico da USP, que mantém marégrafos em vários pontos da costa do Estado.
Período Pós Glacial
Consultora do Ibama e responsável por laudos que nortearam a ação de diversas prefeituras nas últimas décadas, Célia Regina aponta causas naturais para o fenômeno. Segundo a geóloga, a terra ainda vive um período ''pós-glacial'' desde a última glaciação, há 17 mil anos, quando as praias avançaram cerca de 130 quilômetros mar adentro.
Efeito Estufa é o acelerador
No entanto, Célia Regina salienta que esse aquecimento natural do planeta está sendo acelerado pelo homem a partir da emissão de gases causadores do efeito estufa, o que acentua o derretimento de geleiras. ''Ninguém dá muita bola, mas a elevação do nível relativo do mar é crítica. Temos perspectivas de que, até o ano de 2100, esse nível suba até um metro em relação ao nível atual'', alerta a pesquisadora científica do Instituto Geológico, órgão ligado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente.
Ressacas e prejuízo
Além de acelerar o aquecimento global, a ação do homem também seria responsável direto pela erosão que vem diminuindo, gradativamente, a faixa de areia em pelo menos 20 das 79 praias paulistas pesquisadas por Célia Regina. ''Quando o nível do mar sobe, o primeiro impacto é nas praias. O mar empurra a praia para dentro do continente e ela tenta se amoldar. Se essa praia tem condição de migrar, tem terreno lá para trás, ela vai tentar atingir o equilíbrio. Se ela não tem espaço acaba sumindo'', completa a geóloga. A retirada desordenada de areia pelas próprias prefeituras e construções impróprias em uma faixa conhecida pelos estudiosos como pós-praia potencializam ainda mais o avanço do mar em direção às avenidas à beira-mar, acentuando os prejuízos a cada ressaca. O Jundu, a proteção natural foi retirado
''A maior parte das orlas está construída na área do jundu, vegetação que evita a erosão. O jundu evita que a areia invada as avenidas. Como essa vegetação foi retirada, a gente urbanizou errado'', explica Ingrid Maria Furlan Oberg, chefe do Escritório Regional de Santos do Ibama. Apesar de reconhecer que ''não existe um estudo detalhado sobre o processo de sedimentação no Litoral Paulista'', a chefe do Escritório do Ibama alerta que ''os pareceres mostram que é arriscado retirar areia da praia'' porque ''se você retira de uma você pode estar roubando de outra''.
Proteger o continente
Formada pelo Instituto de Geociências da USP com mestrado em Oceanografia Geológica no Instituto Oceanográfico da USP e doutorado em Geologia Sedimentar no Instituto de Geociências da USP, Célia Regina alerta que as interferências promovidas pelo homem no ambiente costeiro, como o aterro de áreas e a construção no pós-praia, causam impactos previsíveis. ''A primeira função da praia é dissipar a energia, proteger o continente das ondas, quando você começa a interferir nessa praia ela vai ter problemas para funcionar direito'', salienta a geóloga.
Classificação de risco da erosão costeira nas praias paulistas
Praia / Classificação de risco: (1) Ilha do Cardoso / Alto (2) Ilha Comprida / Muito Alto (3) Leste / Muito Alto (4) Juréia / Muito Alto (5) Rio Verde / Baixo (6) Itacolomi / Muito Alto (7) Urna / Alto (8) Guaraú / Muito Alto (9) Peruíbe / Alto (10) Itanhaém / Muito Alto (11) Praia Grande / Moderado (12) Capitão Muito / Alto (13) São Vicente / Muito Alto (14) Itararé / Baixo (15) Santos / Moderado
Praias do Guarujá
(16) Guaiúba / Moderado (17) Tombo / Moderado (18) Astúrias / Alto (19) Pitangueiras / Moderado (20) Enseada / Moderado * (21) Pernambuco / Alto (22) Perequê / Moderado (23) São Pedro / Muito Baixo (24) Iporanga / Baixo
(25) Bertioga / Alto (26) São Lourenço / Muito Alto (27) Itaguaré / Muito Alto (28) Guaratuba / Alto (29) Boracéia / Baixo (30) Juréia / Muito Baixo (31) Una / Moderado (32) Juquehy / Moderado (33) Sahy / Moderado (34) Baleia / Moderado (35) Cambury / Baixo (36) Camburizinho / Baixo (37) Boiçucanga / Moderado (38) Maresias / Moderado (39) Santiago / Muito Baixo (40) Toque-Toque / Muito Baixo (41) Guaecá / Moderado (42) Barequeçaba / Alto (43) Balneário / Alto (44) Conchas / Alto (45) Cidade / Alto (46) Pontal da Cruz / Muito Alto (47) São Francisco / Muito Alto (48) Cigarras / Baixo (49) Caraguatatuba / Muito Alto (50) Martim de Sá / Baixo (51) Massaguaçu / Baixo * (52) Mocóca / Baixo (53) Tabatinga / Muito Alto (54) Caçandoca / Baixo (55) Maranduba / Moderado (56) Sapê / Baixo (57) Lagoinha / Moderado (58) Fortaleza / Muito Alto (59) Vermelha de Fortaleza / Baixo (60) Dura / Moderado (61) Lázaro / Moderado (62) Enseada / Moderado (63) Toninhas / Alto (64) Praia Grande / Muito Alto (65) Tenório / Moderado (66) Vermelha S / Baixo (67) Itaguá / Baixo (68) Iperoig / Moderado (69) Perequê-Açu / Alto (70) Barra Seca / Muito Alto (71) Vermelha N / Baixo (72) Itamambuca / Moderado (73) Félix / Moderado (74) Prumirim / Baixo (75) Puruba / Baixo (76) Ubatumirim / Muito Alto (77) Brava Almada / Baixo (78) Almada / Moderado (79) Fazenda / Alto
* Pesquisa concluída antes das ressacas deste ano.
Fonte: Célia Regina de Gouveia Souza - Instituto Geológico de São Paulo
Aterro na Ilha Porchat prejudicou Gonzaguinha, praia mais impactada na BS
A Tribuna - Domingo, 26 de Novembro de 2006, 09:54
Ilha Porchat-São Vicente, Exemplo da ação danosa do homem
Talvez o melhor exemplo dessa ação danosa do homem seja a ligação da Ilha de São Vicente à Ilha Porchat. O aterro do trecho de aproximadamente 100 metros para construção da Alameda Paulo Gonçalves, que sobe a Ilha Porchat, impediu o fluxo da corrente de deriva costeira que transportava os sedimentos da Baía de Santos e da Praia do Itararé até o Gonzaguinha. ''Qualquer intervenção que você faça, principalmente a supressão de uma zona dessa praia, o primeiro impacto é a erosão e isso vai passar para as praias vizinhas, mesmo que elas apresentem hoje características de estabilidade, de equilíbrio'', explica a pesquisadora científica Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico de São Paulo. Com o aterro do trecho entre as duas ilhas, a Praia do Gonzaguinha continuou sofrendo o processo natural de erosão, mas deixou de contar com os processos naturais de transporte e deposição de sedimentos, que acabam sendo prejudicados pelas barreiras criadas pelo homem, como a ligação da Ilha Porchat.
Resultado: Na Baixada Santista, a Praia do Gonzaguinha é a que apresenta o mais alto risco de sumir nos próximos anos, segundo o levantamento feito pela pesquisadora ao longo de duas décadas. ''Mantidas as condições atuais, com certeza a Praia do Gonzaguinha tende a sumir'', resume, em tom de resignação, a pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo sem, no entanto, se arriscar a prever uma data.
Outros exemplos da ação antrópica
Outros exemplos clássicos de barreiras criadas pelo homem que impedem o fluxo da corrente de deriva litorânea e, consequentemente, o transporte e a deposição dos sedimentos são o Emissário Submarino de Santos e os molhes de pedra do Gonzaguinha.
Avenidas e prédios
Para agravar ainda mais a situação do Gonzaguinha, o homem resolveu construir uma avenida e centenas de edifícios sobre a área do pós-praia. ''A maioria das avenidas costeiras está construída em cima das faixas de praia ou de duna. ''Nós, geólogos, brigamos muito com os engenheiros porque não podemos construir essas estruturas. Os impactos são visíveis'', destaca Célia Regina, cujo trabalho foi publicado até em organismos internacionais de divulgação científica. ''O pós-praia tem uma função importante, apesar de não estar sempre embaixo dágua. É justamente nessa faixa que está o estoque sedimentar, são as areias mais finas, é aí que começam as dunas'', resume a pesquisadora do Instituto Geológico de São Paulo.
Omissão possibilitou prejuízos na Enseada, em Guarujá
A Tribuna - Domingo, 26 de Novembro de 2006, 09:53
Enseada-Guarujá, um caso de omissão
A chefe do Escritório Regional do Ibama em Santos, Ingrid Maria Furlan Oberg, reconhece que a omissão das autoridades ambientais facilitou o avanço do mar na Enseada, em Guarujá. Apontados como responsáveis pela erosão na praia, os 98 quiosques construídos na faixa de areia impermeabilizaram o solo, impedindo a fixação dos sedimentos. Pior, os estebelecimentos teriam sido erguidos de forma ilegal, sem autorização da União nem licenciamento ambiental. ''Todos eles estão passíveis de autuação e embargo porque ocupam uma área da União sem que a SPU (Secretaria do Patrimônio da União) tivesse autorizado'', resume Ingrid, que há dois anos vem tentando convencer a Prefeitura a remover os quiosques para o calçadão.
Quiosques no Calçadão
A idéia é que a faixa de areia possa recuperar sua dinâmica própria e, com isso, se recompor. Além de ocuparem um bem público de forma irregular, os comerciantes também não cumpriram exigências previstas na legislação ambiental.
A mudança também é defendida pelo oceanógrafo Fabrício Gandini, do Instituto Maramar, um dos três profissionais da Região Metropolitana habilitados pelo Ministério do Meio Ambiente para desenvolver o Projeto Orla, de recuperação de praias erodidas. ''Precisamos caminhar para trás e não para cima do mar. O calçadão da Enseada é fantástico e tem espaço para construir os quiosques em cima. O mar está mostrando que essa área é muito mais da água do que da Cidade, tanto é que o mar vem destruindo vários pontos'', salienta o oceanógrafo santista.
Os prejuízos vão se repetir Gandini sugere uma mudança nos planos da Prefeitura de reurbanizar a Enseada a fim de evitar prejuízos irreversíveis: ''Foram R$ 2 milhões em prejuízos neste ano, e onde o mar comeu ele vai comer de novo. Esse é um motivo de preocupação porque estão planejando construir coisas que o mar vai destruir na próxima ressaca''.
Vazio legal
Apesar de possuir uma das legislações ambientais mais avançadas do mundo, o Brasil não tem sequer uma resolução ou portaria para disciplinar as atividades nas praias. ''A Marinha só cuida dos trechos em que existe água, o DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral) não se envolve porque a areia não é um bem minerável, o DEPRN (Departamento Estadual de Proteção aos Recursos Naturais) também não se considera responsável pelas praias. Então, esse trecho entre a vegetação e a água ficou órfão'', diz Ingrid.
Diante do vazio legal, o Escritório do Ibama em Santos criou regras para a retirada de areia das praias no final da década de 90. Diante dos resultados, Ingrid recebeu de Brasília a missão de elaborar uma minuta capaz de contemplar os interesses de todo o País. ''A lei só fala que a praia é um bem de uso público, que é proibido construção que impeça o acesso'', resume a bióloga que comanda o órgão federal. Diante da brecha, Ingrid considera ainda mais importante o licenciamento ambiental para atividades à beira-mar. ''As pessoas têm de entender que licenciamento não é contra o desenvolvimento. Em meio ambiente é mais econômico prevenir do que remediar. O licenciamento vai permitir que você faça o que quer fazer só que de uma forma correta, sem prejudicar ninguém'', completa.
Erosão na Ponta da Praia migra para Aparecida
A Tribuna - Domingo, 26 de Novembro de 2006, 09:51
A erosão que diminuiu a faixa de areia na Ponta da Praia está avançando em direção à Praia da Aparecida. De acordo com a pesquisadora científica Célia Regina de Gouveia Souza, esse processo está relacionado a fatores naturais, como a corrente de deriva litorânea, que circula paralelamente à faixa da maré, transportando água e sedimentos em direção à Ilha de Urubuqueçaba. Porém, a geóloga admite que essa erosão também pode estar sendo causada por fatores antrópicos, ou seja, causados pelo homem, como a dragagem do Porto e a retirada de areia pela Prefeitura.
A prova mais eloquente dessa migração, que começou na altura da Rua Carlos de Campos, foi o reaparecimento dos destroços do navio Recreio, que estavam enterrados há três décadas nas proximidades do Canal 6.
''Nessas praias urbanizadas, a gente tem que tomar um pouco de cuidado porque, às vezes, as causas estão superimpostas ou um fator antrópico pode aumentar uma causa natural. São muitas coisas interferindo'', relata a pesquisadora.
Praia do Góes teve sua área reduzida
''O próprio trânsito de navios pra cima e pra baixo também causa modificações'', observa Célia Regina. A dragagem é apontada por caiçaras que residem há décadas no Góes, em Guarujá, como fator decisivo para a mudança do perfil da praia, que fica voltada para a Baía de Santos e teve a faixa de areia reduzida principalmente no canto próximo à Fortaleza da Barra Grande.
''Se você draga, retira sedimentos que poderiam ir para a praia. Se você extrai sedimento, o sistema costeiro diz 'tem um buraco ali e eu tenho que preenchê-lo com areia que pode vir da praia, de praias vizinhas ou do continente'. A tendência do sistema é preencher esse buraco, que não é natural'', explica Célia Regina.
Era pós-glacial - Configuração das Ilhas de São Vicente e Santo Amaro
As ilhas de São Vicente e Santo Amaro têm a mesma configuração geográfica há pelo menos cinco mil anos. Na última glaciação do Planeta, há 17 mil anos, as praias paulistas chegavam próximo à plataforma continental, onde o assoalho marinho mergulha para profundidades abissais. Passado o pico dessa glaciação, aconteceu um avanço constante do nível do mar até formar a configuração atual das duas ilhas.
O Último Período Glacial
''A última glaciação acabou de acontecer, geologicamente falando. De 17 mil anos até 7 mil anos, o mar subiu 130 metros'', revela a professora Célia Regina. ''De 7 mil até 5100 anos o mar subiu e bateu lá nos morros. Depois disso, ele desceu e construiu a planície de Santos, deixando linhas de praia'', resume a pesquisadora.
Hoje, segundo estimativas da especialista do Instituto Geológico, a cota mais alta da planície costeira em Santos está quatro metros acima do nível do mar. Em São Vicente, há um trecho ligeiramente mais alto, perto do Centro, onde a planície costeira foi poupada do último processo de avanço do mar. Na Cidade, há terraços marinhos mais antigos, de 120 mil anos.
''Esses são registros de um outro nível do mar, que subiu mais ou menos dois metros e encostou na Serra do Mar. Toda a planície costeira de São Paulo, nessa época, ficou embaixo d'água'', revela Célia Regina.
Só esforço global pode conter o avanço do mar
A Tribuna - Terça-Feira, 28 de Novembro de 2006, 08:04
Mais do que ações pontuais e direcionadas, tentar impedir que o mar avance sobre a costa fazendo, literalmente, sumirem do mapa diversas praias do planeta - incluindo as do Litoral Paulista - depende de um esforço global para ''segurar'' o aumento da temperatura dos oceanos.
O fenômeno tem ligação direta com o temido efeito estufa. A saída, portanto, está na redução drástica da emissão de gases nocivos, como o dióxido de carbono, nas próximas décadas.
Como mostrou A Tribuna em ampla matéria publicada no último domingo, pelo menos 20 praias do Litoral Paulista correm o risco de desaparecer nos próximos anos em virtude do aumento do nível do mar.
Professor convidado do Instituto de Estudos Avançados da USP (IEA) e um dos responsáveis pela implantação do Protocolo de Kyoto, Luiz Gylvan Meira Filho é categórico. ''Em um século, a temperatura do mar deverá subir entre 3,5 e 4 graus centígrados, o que implicará em um aumento de 60 a 70 centímetros no nível do mar no planeta''.
Na opinião do professor, regiões costeiras de todo o mundo serão afetadas, algumas praias, realmente poderão desaparecer, mas ainda é possível conter parcialmente o fenômeno.
De acordo com Meira Filho, não há meios de impedir o avanço das águas, portanto, as autoridades locais deverão investir em planejamento e em obras de engenheria para adaptar o cotidiano das cidades litorâneas a essa nova realidade.
No entanto, nem tudo está perdido. Segundo o professor, que já foi secretário de Políticas e Programas em Ciência e Tecnologia do Governo Federal e é fundador da Agência Espacial Brasileira, é possível ''segurar até certo ponto'' o avanço do mar.
''Nas últimas décadas, a temperatura do mar subiu 0,6 graus centígrados. Se diminuirmos a emissão de gases que potencializam o efeito estufa, ainda conseguiremos segurar o aumento da temperatura em mais 2 graus. Com isso, ao invés de subir 60 a 70 centímetros, o nível irá aumentar de 30 a 40''.
Conforme a reportagem do último domingo, um estudo feito pelo Instituto Oceanográfico da USP, que mantém marégrafos em vários pontos da costa do Estado, demonstrou que o nível do mar no Litoral Paulista subiu 30 centímetros no século passado, contra uma média de dez centímetros no mesmo período no resto do mundo.
''O avanço do mar em cada lugar do planeta depende das condições locais das marés, que são diferentes em cada região. Depende também do uso que você fez ou faz do solo da praia'', esclarece. Meira Filho, contudo, pondera que o fenômeno que assistimos hoje é resultado das intervenções do homem nos últimos 30 ou 40 anos. Portanto, ações que tenham como objetivo conter o aumento do nível dos oceanos precisam ser colocadas em prática agora.
O professor conta que muitas nações já aderiram ou estão aderindo ao controle de emissão de gases - objetivo central do Protocolo de Kyoto -, o que representa um avanço significativo para a questão.
Estudo da dinâmica costeira é uma saída
A Tribuna - Quarta-Feira, 29 de Novembro de 2006, 08:20
A saída para impedir que o mar avance sobre o continente, trazendo prejuízos às cidades litorâneas e tirando do mapa diversas praias do Estado de São Paulo, pode estar na avaliação aprofundada da dinâmica costeira da região.
Mais do que o aumento do nível do mar em razão da potencialização do efeito estufa no planeta ou de outras alterações provocadas pela ação do homem, o desaparecimento de determinadas praias no Litoral Paulista pode estar relacionado a um processo natural e constante: o realinhamento da costa.
O fenômeno, provocado também pela mudança do fluxo das marés e das correntes ou até mesmo pela movimentação das placas tectônicas onde estão assentados os continentes, explicaria o motivo de algumas praias perderem espaço, em razão da erosão, enquanto outras aumentam seu tamanho em virtude do assoreamento.
''Há lugares no País que já perderam um metro e meio de extensão na última década. Por outro lado, há praias que avançaram cerca de 200 metros. Isso tem a ver com as mudanças climáticas sim, mas tem a ver, sobretudo, com o realinhamento costeiro'', afirma o professor de Oceanografia Física do Curso de Oceanografia do Centro Universitário Monte Serrat (Unimonte), André Luiz Belém.
Belém integra um grupo de professores da universidade que há quatro anos estuda a dinâmica costeira de Ilha Comprida, no Litoral Sul.
''A nossa idéia era descobrir a dinâmica do local. E constatamos que a ilha está mudando de posição, o que explica as mudanças na faixa de areia. Mas isto ocorreria mesmo que não houvesse o super aquecimento da terra. É um processo natural''.
A partir do ano que vem, o grupo iniciará o mesmo tipo de estudo nas praias de Santos. O objetivo é monitorar, literalmente, o quanto de areia que sai e entra na linha de costa, ou seja, da linha útil de praia.
''Sabemos, por exemplo, que a faixa de areia da Ponta da Praia até o Canal 4 está diminuindo, mas entre os Canais 1 e 3, está aumentando. O mesmo ocorre em São Vicente: enquanto a praia do Gonzaguinha está encolhendo, a dos Milionários e a parte em frente à Biquinha estão ganhando espaço''. Ou seja, a areia está sendo transferida de um lado para o outro da baía pelas correntes, fato que pode estar se repetindo nas demais praias do Litoral Paulista.
A solução, neste caso, seria simples e, para muitos, quase óbvia: repor a areia perdida em razão do processo.
''Você retira de um lado e joga para o outro. É um procedimento que pode ser altamente eficaz. Mas é necessário que isso seja feito de forma controlada. Caso contrário, não adianta nada. E a avaliação da dinâmica costeira pode nos dar esse parâmetro''.
Aquecimento global e ocupação irregular diminuem praias
Folha de São Paulo - 04 fev de 2007 - Caderno Cotidiano - pág C1 e C4.
Aquecimento global, com a elevação do nível dos oceanos, aumento da intensidade e da freqüência das ressacas nos últimos anos, a ocupação irregular da orla e mudanças provocadas pelo homem nos rios que deságuam no mar são apontados por especialistas em climatologia e fenômenos marinhos como causas mais prováveis da redução das praias.
Coordenador do projeto que mapeou o problema em todo o país, Dieter Muehe, professor da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), projeta um cenário sombrio nos próximos anos, mas não se arrisca a falar do futuro mais distante. ""Tivemos no país fenômenos meteorológicos muito severos. A médio prazo, a tendência é que o problema aumente, mas é difícil separar o que é fenômeno do que é tendência", diz.
Um levantamento realizado pelo meteorologista Eugenio Hackbart, da MetSul Meteorologia, referenda as ressacas como uma causa do problema.
Desde agosto de 2005, houve quatro ciclones extratropicais -fenômeno climático que causa ressacas- de intensidade extrema no Sul do país. ""A redução na faixa de areia neste verão em praias gaúchas foi conseqüência de um ciclone excepcionalmente intenso."
Segundo a pesquisadora Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto Geológico, o nível do mar no litoral paulista subiu 30 cm no século 20, contra uma média de 10 cm no resto do mundo, no período. "Quando o nível do mar sobe, as águas empurram a praia para dentro do continente. Se ela encontra uma mureta, um calçadão, entra em desequilíbrio, acaba sumindo", explica Souza.
Barragens que retêm sedimentos que os rios levam para o mar e equilibram as praias são outro motivo da degradação, diz o diretor de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Rudolf de Noronha. ""O contrário também acontece. Quando os rios levam um excesso de areia, o desenho das praias é afetado", diz.
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