A importância da Ponte Pênsil para a população do Estado de São Paulo não se resume ao fator de integração da região, mas, principalmente ao de salvar vidas.
Na metade do século XIX, uma série de epidemias assolava o litoral que se tornara um grande foco de malária. São Vicente, alagadiça, cercada de mangues e matagais onde desaguavam as fossas negras de todas as moradias da cidade e também de Santos, passou a espantar até navegadores.
Em 1842 explodem as doenças: Febre amarela, tuberculose, varíola, impaludismo, sarampo, gripe e febre tifoide. As epidemias coincidem com a expansão urbana da ilha de São Vicente. As doenças eram causadas pelas péssimas condições ambientais da ilha e de sua superlotação de nativos e imigrantes.
Para se ter idéia do grau de mortandade provocado pelas epidemias, Santos, na época, ficou conhecida como “porto maldito” e teve que construir um novo cemitério, o da Filosofia. Até 1892, Santos dispunha apenas do cemitério do Paquetá, que se tornou insuficiente diante de tantas mortes. Em meio a tantas perdas humanas e prejuízos comerciais, principalmente relacionados a exportação de café, setores econômicos e políticos começaram a debater a questão chegando ao ponto: Saneamento. Sem ele a região seria devastada.
Após essa discussão, finalmente foi aprovado o plano de saneamento para a ilha de São Vicente, de autoria do engenheiro sanitarista Francisco Saturnino Rodrigues de Brito, chefe da Comissão de Saneamento de Santos. O plano consistiu em dois sistemas: Um de esgoto e outro de galerias pluviais para recolhimento das águas da chuva. Em 1910, Saturnino já havia elaborado a planta de urbanização de Santos que incluía um plano complexo, de esgotos através de estações elevatórias, cujo despejo inicial seria numa estação terminal, onde hoje é o bairro do José Menino.
Havia no entanto a necessidade de se levar o esgoto mais adiante na ilha de São Vicente. Saturnino de Brito optou por levar o esgoto até a ponta do Morro de Itaipú, no atual município de Praia Grande, o que exigia a construção de uma ponte sobre o Mar Pequeno, capaz de suportar pesada tubulação. Diante dessa necessidade surgiu uma das maiores obras de engenharia brasileira, a Ponte Pênsil.
Após minuciosos estudos e aval do presidente de São Paulo, Dr. Francisco de Paula Rodrigues Alves, o material para a construção da ponte foi encomendada à Casa Augusto Klônne Dortoneud, na Alemanha e em 17 de fevereiro de 1911 foi assinado o contrato com a firma Trajsno de Medeiros & Cia., do Rio de Janeiro, para execução da obra.
A Ponte Pênsil, inaugurada em 21 de maio de 1914, criou uma nova realidade para o litoral sul até então abandonado, tornando-se também, responsável pela expansão urbanística da região. Tombada pelo Condephaat em 30 de abril de 1982, a Ponte Pênsil, com 180 metros sobre o Mar Pequeno, com torres de 23 metros de altura (8 metros enterrados no mar), sustenta a tubulação de aço (escoamento de esgoto) que salvou a região das epidemias. Cartão postal de São Vicente e do Brasil, marco da economia de uma época, a obra de Saturnino de Brito continua sendo importante meio de comunicação e integração do litoral paulista.
Fonte: Boletim do IHGSV