
Português, não se sabe se aventureiro ou degredado, talvez náufrago de algum navio vindo à América. Com seus descendentes mamelucos, estabeleceu vários pontos de comércio no litoral vicentino para comerciar com europeus. Fundou Santo André da Borba do Campo e auxiliou os jesuítas na Fundação de São Paulo de Piratininga.
Sertanista/Pioneiro – 1493(?) 1580
Nasceu em Vouzela, distrito de Viseu. Viajou para o Brasil em 1512 (?), deixando lá sua esposa Catarina. Em 1514(?) é aceito pela tribo tupiniquim chefiada pelo cacique Tibiriçá o qual lhe dá como esposa a sua filha Potira. Sabe-se que com ele teve filhos, talvez os primeiros brasileiros. De 1532 data-se a sua colaboração a Martim Afonso de Sousa na fundação da Vila de São Vicente, na Capitania do mesmo nome. Em 1553 funda e é nomeado Alcaide-Mór da vila de Santo André da Borda do Campo, no planalto de Piratininga. Colabora no ano de 1554 com Manuel da Nóbrega a levantar a povoação da São Paulo da Piratininga. Em 1562 João Ramalho com ajuda de Tibiriçá comanda a defesa de São Paulo contra ataque da chamada “Confederação dos Tamoios”. Datado de 1564 uma recusa do próprio João Ramalho ao cargo de vereador da Vila de São Paulo e retira-se dali para o Vale do Paraíba. Em 1580 João Ramalho morre em São Paulo.
Confissões de João Ramalho
“... ao acolherem-me, os índios começaram por me dar mulher nova, escorreita (que não tem defeito) e muito limpa e eu estou na casa dos 20 anos (...) em pecado mortal, que é o da fornicação (praticar o coito) e luxúria. Segui o ditado: “em Roma sê romano” e confesso que entre os índios, índio fui. Para eles, pecado é recusar o que a natureza prazerosa manda colher...”
“...E mais vos digo que assim desnudas são elas mais discretas e modestas do que as ataviadas damas do Paço...”
“...Padre confesso que mulheres tive e tenho muitas, pois todos os caciques queriam e querem ser meus parentes. Mas a esposa principal é Potira (Bartira) (...) de Potira e das outras tenho muitos filhos e filhas (...) andam por aí desde as praias de São Vicente, Bertioga e Itanhaém até os campos de Piratininga, a dar-me força e prestígio pois casaram e tiveram filhos e netos que, por sua vez também casaram e por isso me tornaram parente de quase todos os tupiniquins...”
“Com Antonio Rodrigues, meus filhos e muitos outros tupiniquins, ajudo os portugueses de Martim Afonso de Sousa a construir casario de pedra e cal também a igreja matriz e assim rompe a vila de São Vicente.
“Nas guerras que mantínhamos contra os Tamoios e outros Tapuias, fazíamos muitos prisioneiros e então ponho-me a pensar que mais vantajoso será vende-los aos portugueses do que come-los, costume que veramente me dá a volta ao estômago e à alma...”
“...Bem sei que anjos, não homens é o que vós jesuítas pretendíeis fabricar nos vossos aldeamentos mas, vejo que não haveis conseguido nem uma coisa nem outra, apenas mortos-vivos.”
“Padre, o índio segue a natureza, o português, luta contra ela.”
“Se tudo isso é pecado, então Padre, eu pecador confesso (...) o que fiz nesta vida, nesta vida eu não renego e na outra, a ver vamos...”
Fonte: Boletim IHGSV
JOÃO RAMALHO
Nasceu em Vouzela, distrito de Viseu, em Portugal, entre 1485 e 1493 e faleceu em São Paulo, por volta de 1580.
Segundo suas palavras, teria chegado ao Brasil aproximadamente em 1512, não se sabendo se foi um náufrago ou um degredado. Porém, alguns estudiosos acreditam que poderia fazer parte das expedições de João Dias Solis ou de Fernando de Magalhães.
Foi o primeiro europeu a subir a serra, então chamada de Paranapiacaba (lugar de onde se vê o mar), em direção ao planalto, onde estabeleceu contato com os índios guaianases, sendo aceito pelo cacique dessa tribo, Tibiriçá, que, simpatizando com ele, oferece sua filha M´bicy (Flor de Árvore), também conhecida por Bartira ou Portira, como esposa, presumivelmente em 1515, com quem teve inúmeros filhos.
Em 1532, sabedor da chegada de uma expedição estrangeira ao litoral, e de que os indígenas poderiam hostilizá-la, resolveu ir, juntamente com outro habitante português, Antonio Rodrigues, morador em Tumiaru (perto de Bertioga), casado com uma filha de Piquerobi (irmão de Tibiriçá), ao encontro dos recém- chegados, para assegurar o desembarque em paz e amizade.
A surpresa de serem recebidos por dois homens brancos foi enorme para os recém-chegados, que estavam sob o comando de Martim Afonso de Souza, mandado pelo rei de Portugal, D. João 3º, para averiguar as terras do sul, até os limites fixados pelo Tratado de Tordesilhas.
João Ramalho foi um grande colaborador de Martim Afonso, tendo auxiliado na fundação da Vila de São Vicente no dia 22/1/1532. Sua relação com o cacique Tibiriçá facilitou bastante o relacionamento entre colonos e indígenas. De porte agigantado, era respeitado por todos. Sobre ele escreveu Tomé de Souza ao rei de Portugal D. João 3°: "tinha tantos filhos, netos e bisnetos que não ouso dizer a Vossa Alteza, ele tem mais de 70 anos, mas caminha nove léguas (a légua portuguesa equivalia a cinco quilômetros) antes de jantar e não tem um só fio branco na cabeça nem no rosto". Sua prole foi numerosa, contando com inúmeros filhos legítimos e bastardos; talvez desse fato provenha a designação de "povoador". Apesar de sua vida de polígamo, era religioso. Todos os seus filhos, legítimos ou não, foram batizados.
Em conversa com o padre Manoel da Nóbrega, afirmou que fora casado em Portugal com Catarina Fernandes das Vacas, a quem jamais tornou a ver e que desconhecia se ainda vivia. Por esse motivo, em 1550 foi excomungado pelo jesuíta Simão de Lucena, por viver "amancebado" com Bartira. Nóbrega escreveu ao reino para saber da existência de Catarina e posteriormente efetuou o casamento de João Ramalho com Bartira, após uma vida em comum de 40 anos, já com o nome de Izabel Dias, depois de convertida à religião católica.
João Ramalho acompanhou Martim Afonso de Souza ao planalto de Piratininga, recebendo uma sesmaria, em 1534, na qual fundou a povoação de Santo André da Borda do Campo (hoje São Bernardo do Campo), elevada a vila em 8/4/1553, pelo governador-geral Tomé de Sousa, sendo nomeado seu alcaide e guarda-mor do campo e, mais tarde, capitão (1/7/1553). Foi também vereador (1553 e 1558). Às suas custas fortificou a vila, com trincheira e quatro baluartes. Apesar de sua dedicação a Santo André, esta estava em franca decadência, e não chegava a contar com 30 moradores brancos. Assim, em 1560 não teve como evitar a ordem de Mem de Sá, novo governador-geral do Brasil, de transferir todos os moradores para São Paulo, e o Pelourinho para defronte do Colégio de São Paulo e, por consequência, extinguir Santo André.
Contrariado, foi obrigado a vir morar em São Paulo, onde serviu como vereador de 1562 a 1566. Ainda em 1562 foi nomeado pela Câmara Municipal e povo de São Paulo para o cargo de Capitão da Gente, a fim de combater os índios carijós, no Vale do Paraíba, que tinham feito cerco e atacado a vila em 9/7/1562. Nesse combate, a vila foi salva por ele e por Tibiriçá. Em 1564, recusou-se a ser mais uma vez vereador, por contar com mais de 70 anos, mas em 1576 seu nome constava em ata da Câmara paulistana.
Já velho e cansado, foi viver no Vale do Paraíba entre os tupiniquins. Morreu por volta de 1580 em São Paulo, onde deixou diversos descendentes legítimos e ilegítimos. Era avô de quase toda a população nascida na Vila de São Paulo de Piratininga, sendo considerado o principal tronco das famílias paulistas. Tem uma rua com seu nome no bairro paulistano das Perdizes, e em 14 cidades da grande São Paulo.
BARTIRA
Filha do cacique Tibiriçá. M´bicy (Flor de Árvore), também conhecida por Bartira ou Potira. Casou-se com João Ramalho, presumivelmente em 1515, com quem viveu por mais de 40 anos. Seu nome foi mudado para Izabel Dias, depois de batizada na religião católica pelos jesuítas, no planalto de Piratininga. Tiveram nove filhos, e dessa união descendem inúmeras das mais tradicionais famílias paulistas. Também é nome de rua no bairro das Perdizes, e em diversas cidades da região metropolitana da capital.
http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=354940