ABAREBEBÊ - Um grande colonizador
O Padre Leonardo Nunes, fundador do primeiro colégio na Capitania de São Vicente, dele tendo sido seu primeiro professor, foi um extraordinário catequista das numerosas tribos indígenas radicadas no litoral, de São Vicente a Peruíbe, deslocando-se nessa área com tal freqüência, foi pelos índios chamado de “Abarebebê” – o Padre Voador.
Logo transformou-se em notável expoente na colonização brasileira a partir de 1549, quando chegou na comitiva de Tomé de Souza, como primeiro Governador Geral do Brasil.
Na distribuição dos jesuítas que haviam chegado, Leonardo Nunes veio para São Vicente, como o “homem vindo do céu”.
Logo construiu no povoado vicentino uma casa e uma igreja para educar crianças indígenas. Foi a primeira escola da capitania. Ao acompanhar o trabalho zeloso de Leonardo Nunes, alguns homens importantes da colônia chegaram a filiar-se à Companhia Jesuíta. Entre eles estava Pêro Correa, famoso caçador de índios que, mais tarde, converteu-se ao cristianismo, tornando-se apóstolo da fé.
Nessa região, Leonardo Nunes fundou o 1º Curso de Humanidades do Brasil, em 1550. Aqui desenvolveu a 1ª indústria metalúrgica nesse mesmo ano e em 1551, instalou o 1º albergue, que representou o 1º hotel em plagas brasileiras.
Foi professor, médico e catequista junto aos índios, antecedendo Nóbrega 3 anos, e a Anchieta 4 anos.
Durante o período que viveu em São Vicente, incomodava-o o estilo de vida desregrada de João Ramalho, que tinha muitas mulheres (todas índias) e muitos filhos, razão pela qual o considerava excomungado, expulsando-o das missas que rezava. Nunes se tornou o primeiro a promover libertação de índios do trabalho escravo na região.
Seu superior, Padre Manuel da Nóbrega, em 1554, encarregou-se da importante missão de ir a Europa informar o fundador da Ordem Jesuítica, Inácio de Loyola, os grandes progressos obtidos em prol da cristianização dos índios brasileiros.
No dia 30 de junho do mesmo ano, partiu de Santos e enfrentando forte temporal, seu navio naufragou, perecendo ele afogado.
Leonardo Nunes – o ABAREBEBÊ, o grande colonizador, tornou-se o primeiro mártir cristão dos primórdios da brasilidade.
FONTE: Boletim do IHGSV
Ainda em outro Boletim do IHGSV, temos:
Leonardo Nunes, o “Padre Voador”
Mais conhecido como “Abarebebê (padre voador), nome dado pelos índios, justificado por uma capacidade incomum do querido Padre: a de estar em lugares diferentes, não importando a distância, em tempo considerado extraordinário por quantos o conheceram. Para a mentalidade indígena, outra explicação não poderia haver, se não a capacidade de voar.
Jesuíta, nasceu na vila de São Vicente da Beira (Portugal) em 21 de setembro de 1509 e integrou-se na Companhia de Jesus em 6 de fevereiro de 1546, aos 37 anos. Era filho de Simão Alvarez Guimarães e Izabel Fernandes Guimarães.
Veio para o Brasil na primeira missão chefiada por Manuel da Nóbrega em 29 de março de 1549, trazidos pelo primeiro Governador Geral do Brasil – Tomé de Souza.
No fim de 1549 ou início de 1550, chegou a São Vicente onde foi o primeiro missionário. Trouxe para cá as primeiras noções da religião cristã e, com auxílio dos portugueses, edificou igreja e seminário.
Padre Leonardo Nunes sempre deu mais valor aos bens espirituais do que ao conforto ou bens materiais. Gostava de cantar e tinha boa voz; usava este instrumento para atrair mais perto a sensibilidade indígena.
Na capela onde rezava a missa, intimou João Ramalho a retirar-se por julga-lo excomungado. Nessa ocasião, recebeu ameaças dos filhos do povoador. Nesse mesmo ano aconselhou João Ramalho a fundar Santo André da Borba do Campo, antecedendo Nóbrega no conhecimentodos Campos de Piratininga. Alguns historiadores atribuem a Leonardo Nunes a primeira idéia de fundar São Paulo.
Incansável na catequese, procurou os tamoios e carijós no sertão, restituindo a estes a liberdade negada pelos portugueses. Numa das cartas de Anchieta encontramos: “...porque também a vida do Padre Leonardo Nunes era muito exemplar e convertia mais com obras que com palavras”.
Por ordem de Nóbrega, foi à Bahia, trazendo Anchieta e outros irmãos para São Vicente, chegando aqui em dezembro de 1553. Em Peruíbe, tem-se até hoje, testemunho da obra de Leonardo Nunes. Encontramos aí, as ruínas existentes da igreja por ele construída. Ali rezou missa, doutrinou e residiu. Segundo ele mesmo narra, a igreja foi construída em tempo recorde: 8 meses, iniciada e acabada no mesmo ano. Embarcou no ano seguinte para a Europa, a fim de relatar os acontecimentos a D. João IIIe a Ignácio de Loyola mas, naufragando em viagem, morreu a 30 de junho de 1554.
Boletim IHGSV
Leonardo Nunes
Nascido em São Vicente de Beira - Portugal e falecido em 30/6/1554, na costa brasileira.
Padre jesuíta, entrou para Companhia de Jesus no Colégio de Coimbra em 1/11/1548 e veio para o Brasil com o padre Manoel de Nóbrega, em 1549, na comitiva do governador-geral Tomé de Souza. Logo após a chegada a Salvador, foi em companhia do irmão Diogo Jácome para Ilhéus e Porto Seguro, onde ensinavam os meninos a ler e a escrever. Logo depois foi encarregado de uma missão especial na capitania de São Vicente, onde não havia nenhum missionário e, nas palavras do padre Manoel de Nóbrega, "os portugueses que lá viviam eram piores que os índios, completamente entregues a devassidão e a todos os vícios e exercendo sobre os pobres indígenas uma crueldade revoltante e fazendo-os escravos".
Seguiu com 12 meninos - juntamente com o padre Afonso Braz e o irmão Diogo Jácome - e a maioria dos portugueses aceitaram os seus conselhos. Mas, vendo os interesses atacados, outros começaram a maldizer a interferência do religioso, que segundo eles se devia ocupar só das almas. Procurou persuadi-los, mas em vão. A sua palavra era, porém, bem recebida pelos índios, entre os quais gozava de grande prestígio. Foi de grande utilidade o conhecimento da língua dos nativos. Tendo os índios tamoios, em guerra com os portugueses, aprisionado algumas mulheres lusitanas, reservavam-lhes tristíssima e dolorosa sorte. E, sabendo do fato, partiu para resgatar as pobres vítimas sem outra arma que não fosse a sua palavra, e a vitória foi completa.
Outra feita foi a sua visita aos índios dos Patos, a cem léguas de distância e, só pelo prestígio da sua palavra conseguiu a liberdade para algumas famílias de fidalgos castelhanos que se dirigiam ao Rio da Prata.
Na capitania de São Vicente conseguiu que os moradores lhe confiassem seus filhos, com estes e com muitos órfãos portugueses fundou o Colégio de São Vicente, onde os missionários lhes ensinavam a língua portuguesa e o latim, ao mesmo tempo em que os instruíram na doutrina cristã. Antes de qualquer outro, deu aos índios as primeiras noções da religião cristã, catequizando-os e edificando, com o auxílio de colonos portugueses, a igreja do seminário.
Recebeu como irmãos leigos vários europeus e mestiços, dentre os quais Mateus Nogueira do Espírito Santo, Pero Correia, Manuel de Chaves, Leonardo do Valle e Gaspar Lourenço. Da capela onde ia dizer missa intimou João Ramalho a retirar-se, por julgá-lo excomungado, por ser casado em Portugal e viver maritalmente no Brasil com uma índia, a filha do cacique Tibiriçá, Bartira. Pouco tempo depois, andando pelo campo, aconselhou o mesmo a fundar Santo André da Borda do Campo, antecedendo a Manoel de Nóbrega no conhecimento dos campos (planalto de São Paulo) de Piratininga. Era chamado, pelos indígenas, o Abarebebê - padre voador, em virtude da excepcional velocidade com que se locomovia.
Foi quem, por determinação de Nóbrega, viajou à Bahia para trazer José de Anchieta e os outros jesuítas a São Vicente. Ficou como responsável pela Casa de São Vicente, não participando da fundação do Colégio de São Paulo de Piratininga, em 1554, mas foi o grande desbravador da região onde hoje está a capital paulista.
O padre Leonardo Nunes faleceu vítima de um naufrágio, em 30/6/1554, quando, em viagem à Europa, a pedido do padre Manoel de Nóbrega, iria relatar ao rei D. João 3º e a Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus, e futuro Santo, os progressos obtidos a favor da doutrina cristã no Brasil.
Em 1551, de São Vicente deixou duas cartas escritas dirigidas aos padres da província - Companhia de Jesus - em Portugal, uma das quais se imprimiu em Veneza, em 1559, juntamente com outras, traduzidas em língua italiana. A outra teria ficado inédita.
http://www.al.sp.gov.br/noticia/?id=354975